~ Capítulo um ~
“A indesejada das gentes”
Não sei se devo contar como vim parar no inferno ─ não o inferno de que tanto ouvimos falar quando crianças, quando fazíamos algo de errado e éramos constantemente ameaçados por nossas progenitoras (ou no meu caso, pela minha madrasta) de sermos mandados para lá caso fizéssemos algo que contrariasse a vontade de Deus. Hoje, porém, me pergunto se ela não estaria certa. Talvez as coisas fossem diferentes ─, pois, posso comprometer muito mais que a minha cabeça, aliás, muitas outras cabeças.
Quando digo inferno, por mais estúpido que possa parecer ─ e na verdade é ─, quero dizer minha própria mente. Muito me admira eu ter alguma sanidade para ficar diante desse tantos papéis amarelados para narrar meus infortúnios usando uma caneta esferográfica azul que ameaça acabar antes dessa história. Mais admirado ainda estou com o fato de ela não ter-me encontrado ainda. Antes que eu continue a falar de minhas desgraças, quero apresentar a detentora de todas elas. Minha arqui-inimiga é, ninguém mais ninguém menos que a infame... morte.
Todos um dia a encontrarão. Todos. “É a única certeza que temos em vida”, já dizia mamãe. O que eu não consigo compreender depois de tantos anos de luta é, por que eu não pude encontrá-la de maneira normal? Por que eu não simplesmente morri como todos os outros?
É de certa forma incomum isto. Enquanto alguns clamam por vida e longos anos dela, eu peço todos os dias a quem quiser atender primeiro meus pedidos para morrer. Veja só. Não posso nem morrer porque a própria morte não deixa. Quero morrer, mas, não há alternativa senão passar pela morte. O que é impossível, pois, a morte vem impedindo minha ida há muitos anos.
Não pense você que está passando seu tempo lendo esta história inquietante que eu já não tentei morrer pelas minhas próprias mãos. Já fiz de tudo. Não vem ao caso os métodos, entretanto, posso dizer que todos falharam porque a morte em pessoa sempre aparecia para impedir. Não canso de repetir as cenas na minha cabeça: a morte me impedindo de morrer. A que nível de loucura eu cheguei?
E por falar em loucura, é inevitável que, depois de tantos acontecimentos estranhos, um homem naturalmente perca sua sanidade. Eu ainda tenho uma centelha dela, como já disse anteriormente. Não vai durar muito, mas, espero ser suficiente para que eu conclua esta narrativa. Uma vez terminada, pode acontecer qualquer coisa comigo. Não ligo. O importante é que tudo o que vi, ouvi e senti seja contato aqui nos mínimos detalhes, pois, se um dia você precisar de armas contra a “indesejada das gentes”, poderá lançar mão dessas páginas para pelo menos enganá-la, como eu tenho feito por anos. Agora, vou contar-lhe como tudo começou.
No ano de 1992, eu nasci no hospital Santa Inês, em Bráz e Silva. Isso mesmo, nome da minha cidade natal é tão estúpido quanto ela mesma conseguia ser. Talvez não seja tão estúpido assim. Todos os outros moradores tinham orgulho de viver lá e do nome da cidade. Talvez fosse só eu mesmo que repudiava seu nome... vá entender. Os bráz - silvenses todos não passavam de pessoas cegas pela perspectiva de um mundo melhor. Não me excluo desse grupo desafortunado, afinal, sou um bráz – silvense também e um dia sonhei com um futuro melhor, ou pelo menos com algum futuro. Não era uma cidade tão diferente de qualquer outra cidade de interior que você já tenha visto. Casinhas simples, uma praça com uma igreja ao centro, a prefeitura, poucos os armazéns. De longe parecia ser um lugar como qualquer outro, e de fato era. O que tornou Braz e Silva um lugar digno de figurar no mapa foi o dia do meu nascimento. Não porque eu fosse filho de alguém importante, digno de receber um feriado com o meu nome, mas porque, nesse dia, algo incomum até para os parâmetros que definem coisas estranhas. Meu parto foi feito pela morte.
Minha mãe ─ que Deus a tenha ─, gritava muito de dor. Lembro-me como se fosse ontem ─ não ache estranho eu narrar como foi o meu parto, eu o vi realmente e em outro momento explicarei como consegui essa façanha ─, eu não queria sair, por mais que ela me empurrasse com sua vida. A cama sobre a qual estava jazia encharcada de sangue. O suor da face lavava seu rosto por inteiro e, enquanto ela mantinha sua boca aberta constantemente para gritar, algumas gotas salgadas de suor adentravam-na.
Passaram-se alguns minutos e as parteiras não conseguiam obter resultados. Também pudera. PARTEIRAS em um hospital. Evidentemente que eu só chamo aquele Santa Inês de hospital por consideração. Enfim, retomando: quando as senhoras esforçadas tentavam me retirar à força do útero de minha mãe, eis que apareceu uma pessoa de aparência andrógina vestindo roupas casuais de jovem. Não se podia afirmar o sexo. Ora tinha rosto de homem e corpo de mulher, ora o contrário. Não eram mudanças extraordinárias, era algo que se notava ao ver aquela criatura de ângulos diferentes. Sua voz era grave com umas notas agudas ao fundo. Era algo impossível de distinguir. Chegou ao quarto do hospital dizendo:
─ Não deixem esta criança morrer. O cordão umbilical está ao redor do pescoço do garoto e ele corre sério risco de vida. Façam o possível para que ele viva, senão vocês virão comigo...
─ Quem é você rapaz... ou moça... ─ a parteira não conseguia diferenciar ─, quem deixou você entrar aqui?
─ Eu posso ajudar a fazer esse parto. Queiram por favor, se afastar. ─ ordenou a pessoa.
─ Você não vai encostar um dedo nessa mulher! Você é por acaso enfermeiro? Se for, porque está nesses trajes? Vá colocar seu uniforme agora! ─ ordenou a outra parteira.
A criatura desconhecida se aproximou da parteira que falara por último apertou-lhe o pescoço. A mulher se debatia como um porco ao tentar se salvar do abate. Seus olhos esbugalharam e ficaram inteiramente salpicados de veias estufadas. Em alguns minutos, morrera.
─ ALGUÉM CHAME A POLÍCIA! SOCORRO! POLÍCIA! ─ gritava a parteira sobrevivente, sem sair do lugar. Ficara em um estado constrangedor de histeria, em seguida, caiu desmaiada. Ninguém apareceu para ver o que acontecera.
Enquanto a criatura andrógina impedia meu nascimento, minha mãe tinha delírios de dor. A criança em seu útero lhe causava tanta dor que mesmo ela pediu para morrer, desde que eu ficasse a salvo.
─ Não. Não quero que você morra meu bem... quero seu rebento morto... ─ disse a pessoa.
Mesmo estando a poucos instantes de enlouquecer de dor, minha mãe ainda teve um momento de sanidade para perceber que aquela criatura, fosse quem fosse, lia mentes. Aquilo lhe causou um calafrio na espinha que foi capaz de cessar qualquer dor que estivesse sentindo. Parara de repente de gritar.
─ O que... o que aconteceu? Por que não está doendo mais? Por que meu filho não nasce? ─
Perguntou minha mãe completamente desnorteada.
─ Está em paz, querida. Agora que ele está morto...
─ Não! Não pode ser! Meu filhinho! Você não sabe de nada! ─ gritava minha mãe tentando se levantar para agredir aquela pessoa indefinível.
─ Se não acredita, provarei a você que o que digo é verdade...
Dito isso, a jovem criatura foi ao encontro de minha mãe e se posicionou como uma parteira teria feito. Encarando a genitália ensanguentada de minha mãe, enfiou o braço o mais fundo que conseguiu e sob constantes gritos de dor e de agonia puxou-me de dentro do útero segurando-me pela perna, de cabeça para baixo. Eu estava da cor de uma berinjela. Inerte. Sem vida. A força foi tanta ao me puxar que a placenta viera junto comigo e pendia presa ao cordão umbilical.
─ Agora acredita, meu anjo? Veja sua cria. Já não tem salvação. Não há nada que você ou qualquer pessoa aqui possa fazer.
Minha mãe não teve resposta e nem reação. É o que se espera de uma pessoa morta. Meu parto foi algo tão invasivo, que seus órgãos internos foram dilacerados pela mão daquele ─ ou daquela ─ que fizera meu parto. A mulher não passava de um corpo toscamente largado sobre uma cama besuntada de sangue.
Ainda morto, eu fui carinhosamente envolvido num pano encardido que aquela pessoa pegou do chão ao acaso. Embalava-me como se quisesse me fazer dormir. Ao meu lado, um amontoado das carnes de meu cordão umbilical e da placenta encostados contra o peito da criatura.
─ Durma bem, criança. Sonhe com os anjos. Brinque com eles... vá em paz...
Num sobressaltado sopro de vida, comecei a tossir uma tosse fina de recém-nascido. Fui gradativamente ficando rosado, deixando para trás meu tom berinjela. Chorava copiosamente como se tivessem me batido com muita força para acordar. Sem entender o que estava acontecendo, a pessoa perguntou:
─ O que está acontecendo? Por que você está vivo? Eu não dei permissão para que você vivesse! Seu pequeno capricho acabou de impedir que mais de cem mil vidas viessem parar em minhas mãos! Você tem idéia do que acabou de fazer?
Como eu gostaria de ter respondido naquele momento. Se eu pudesse, teria saltado do colo daquele estranho e pularia de cabeça no chão a fim de amassar minha moleira e nunca ter passado pelo que passei. Mas eu era apenas um recém-nascido. Minha única resposta foi um choro. Um choro que arruinou toda aminha vida.
─ Você vai me pagar criança. Vai me pagar caro por isto com sangue e sofrimento. A menos que você me pague com as cem mil vidas roubou. Como pena, você vai viver até me pagar todas as vidas que me deve. Só morrerá quando eu quiser morra. Só dará o último suspiro quando eu permitir, já que fez tanto gosto por viver.
Que culpa eu tinha? Diga-me. Por que, de todas as pessoas que existem, logo eu tinha que passar por tudo isso? É um direito do ser humano morrer. Sei que antes de tudo é viver, mas, depois do que eu narrar, até você vai desejar que eu tenha morrido antes.
A estranha criatura agarrou uma de minhas pernas e me carregou pelo hospital como se eu fosse um animal prestes a ser sacrificado. Eu apenas chorava e chorava. Hoje sei por que ninguém no hospital veio ver o que acontecia no quarto onde eu nasci: toda e qualquer pessoa que ousou estar ali, jazia morta. Por alguma razão, estavam rijos, pálidos, porém, suas faces sorriam. Era algo muito bizarro, não queira ver isso nunca. Muito sangue no chão. Alguns até foram separados de suas cabeças. Os corredores brancos foram totalmente redecorados com sangue. Pergunto-me até hoje como que tantas pessoas morreram tão horrível e tão silenciosamente. Aliás, a pergunta é autoexplicativa. Hoje entendo bem como aquilo aconteceu. Conhecendo a morte do jeito que eu conheço, não duvido de seu talento para levar seus escolhidos de forma quase imperceptível.
Ao sair do hospital eu e a criatura demos de cara com um dia nublado ─ sinceramente, acho-os fascinantes. Prefiro os diferentes tons de cinza dos dias nublados ao único tom de azul dos dias ensolarados. Não me culpe por ser mórbido. Mais para frente, você entenderá minhas razões ─, frio e úmido. Logo à frente, várias pessoas se aglomeravam atrás dos poucos policiais armados porcamente de Bráz e Silva. Os que não eram da polícia, seguravam tochas e pedaços de pau, crentes de que poderia fazer algo a respeito ─ quando digo que os bráz - silvenses são estúpidos, não é em vão. Que diabos eles achavam que iriam fazer com tochas aquela hora? Incendiar o hospital? Meu algoz talvez? Enfim, fosse o que fosse, eles se arrependeram amargamente depois de se interporem no caminho daquela estranha criatura ─, um dos policiais que estava um pouco mais à frente ordenou gritando:
─ Entregue essa criança e ponha as mãos na cabeça imediatamente!
─ Saiam do meu caminho... ─ ordenou a criatura.
─ Você me ouviu? Eu disse para entregar a criança! ─ disse novamente o policial.
─ Este garoto já está entregue... a mim. Ouçam, dele mesmo.
A criatura me ergueu com apenas uma mão pela minha cabeça. Meu cordão umbilical ainda pendia preso ao meu corpo. Parei de chorar imediatamente para travar minha face delicada tomada de sangue em uma expressão morta. Mexia apenas a pequena boca para dizer:
─ Saiam da frente se não quiserem ter o mesmo fim que eu. Por favor. ─ a voz saiu como que um sussurro gritado. Não lhe culpo se não conseguir imaginar. Eu ainda não consigo entender o que foi aquilo.
Algumas mulheres que estavam junto ao extenso grupo de pessoas desmaiaram imediatamente. Era uma cena muito horripilante. A pessoa que me segurava pela cabeça em si já era de dar arrepios.
─ Vocês ouviram o garoto.
─ CORRAM! É O DEMÔNIO!
─ UMA ASSOMBRAÇÃO!
─ UM FANTASMA!
─ Se enganam todos. Eu, meus caros, sou a morte...
Tentei fazer segredo até agora sobre quem era a criatura andrógina que causara todo esse tormento, mas, estava muito óbvio. Infelizmente, a pequena Bráz e Silva recebeu a indesejável visita dela pessoalmente. Mesmo aqueles que chegam à hora de sua morte não a veem. O que me obriga a perguntar mais uma vez: por que logo Bráz e Silva? Tantas cidades enormes, de renome, com inúmeros e luxuosos pontos turísticos para aquela desgraçada visitar e fazer balbúrdia, mas, ela preferiu logo lá. Por quê?
Desculpe se o decepcionei ao informar a aparência da indesejável, mas, se você a imaginou de encapuzada e com uma foice na mão... bom... meus pêsames. Antes fosse assim. Pelo menos eu não veria aquele rosto tenebroso.
A morte caminhou lentamente pela cidade enquanto tudo ao seu redor acontecia em câmera lenta ─ este é o segredo dela para nunca perder seu alvo. Por mais rápido que você corra para se salvar, ela sempre estará pelo menos dez passos à frente para pegá-lo. Se for sua hora, não adianta lutar ─, até as folhas cadentes daquele outono gélido caíam tão lentamente que eu poderia envelhecer na espera de vê-las tocar o chão. Um dos policiais que estava mais próximo tinha a face contraída de pavor intenso. A morte se aproximou do seu rosto e, como uma mãe dando carinho ao seu filho, beijou-lhe ternamente a face. Os olhos do homem imediatamente perderam o foco, seu corpo empalideceu por inteiro. Destoante de todos os outros fugitivos, ele caiu rápida e ruidosamente de cara no chão, quebrando uns dois dentes. Estava morto.
Um a um, a inesperada foi beijando cada face que via pelo caminho. Após seu beijo frio, eram como se as pessoas voltassem à “velocidade normal” e caíssem toscamente ao chão rapidamente.
Passaram-se alguns minutos de caminhada. A morte continuava me carregando pela cabeça, deixando pelo caminho marcas de sangue da minha placenta e do meu cordão umbilical. Ela me colocou novamente no colo, deu num nó cego em meu cordão umbilical e mordeu depois do nó para cortar. Jogou minha placenta ao chão como se fosse um saco de lixo. Para a minha surpresa e da morte, a placenta começou a se mexer. O pedaço de cordão umbilical que restou aderido à placenta ergueu-se e oscilava como uma cauda de gato. Aquelas carnes ensaguentadas ao chão tornaram-se um amável labrador de pelo claro ─ como? Não me pergunte. Não faço a menor ideia. A morte me disse que tinha uma explicação, mas, nunca a deu. Não insisto mais ─, hoje o chamo de Plácido. Um divertido trocadilho me veio à mente tendo em vista o fato de ele ter-se originado de uma placenta. Não é um nome muito comum para um cachorro e nem condiz com seu temperamento, uma vez que Plácido quer dizer “calmo”. Ele pode ser qualquer coisa, menos calmo, mas, é o melhor cachorro que alguém poderia ter.
Em poucos minutos, toda Bráz e Silva jazia no silêncio daqueles cadáveres inertes. Mesmo quem não foi beijado pela morte havia morrido. A cidade virou um enorme túmulo. Alguns urubus já sobrevoavam o local para se servirem daquele grandioso banquete. Pergunto-me até hoje se eles já sabiam que tanta gente iria morrer naquele dia.
Ao sul da minha cidade, depois do bosque, havia um precipício que chamávamos de “escorregador” ─ eu disse. Os bráz – silvenses são idiotas ─, pois, algumas pessoas desavisadas caíram dele e morreram sem nem saber o porquê. As árvores e arbustos do bosque permeavam até o limite do precipício, de modo que, ao caminhar por entre a vegetação, você poderia andar calmamente até o fim que, mesmo à beira do precipício, ainda parecia ter mais o que andar depois. Alguém alguma vez colocou uma placa avisando? Não. Alguém alguma vez pensou em colocar uma cerca em volta? Não. Por isso eu acho que tinham mais é que morrer mesmo. Tolice tem um limite.
Ainda no colo da indesejada das gentes, eu havia parado de chorar. Apesar de seu corpo gélido, eu me sentia acolhido por aqueles braços rançosos. Ela entrou no bosque e, por onde passava, as plantas perdiam imediatamente seu verde. Ficavam escuras e apodrecidas como se estivessem mortas há anos. Árvores de grande porte caíam a partir da raiz. Até as pobres formigas que ousaram estar em seu caminho tornaram-se apenas poeira sob os pés malditos da morte.
Chegando ao fim do bosque, as árvores que findavam o caminho caíram no vão sem fim do escorregador, dando espaço para que se visse a imensidão. Quem nunca veio a Bráz e Silva jamais diria que existia vista tão linda numa cidade esquecida pelo tempo. O horizonte parecia ser uma aquarela majestosamente pintada. O céu deixava reconhecer onde terminava o tom de azul da manhã e começavam as tonalidades acinzentadas que velavam a presença da morte. Ela carinhosamente me ergueu à altura dos olhos e, encarando-me, disse com sua voz dúbia:
─ A partir de hoje, você tem um trabalho a fazer. Você cuidará de conseguir noventa mil vidas para mim. Dez mil já levei hoje, então, receba isto como um bônus. Você tem até seus luminosos vinte e um anos para conseguir cumprir a tarefa que lhe dei, senão, nunca morrerá. Não pense que isto é algo positivo. Mesmo com a pior das pestes, mesmo no pior dos acidentes, você resistirá com vida. Pedirá para morrer todos os dias da sua vida e não lhe darei esta regalia. Irá perdurar os séculos. Definhar até parecer um amontoado de carne podre, mas, não permitirei que morra. Entendeu bem?
Como eu queria ter respondido naquela hora. Teria tentado insultá-la. Talvez assim ela se sentisse tão ultrajada que me tiraria a vida só por dizer-lhe um par de palavras desrespeitosas, mas, como na vida nada é justo ─ ainda mais na minha ─ eu era apenas um recém nascido inocente. Não falaria nada nem que me apontassem uma arma.
Com todo cuidado que lhe era possível ter, a morte se equilibrou na beira do escorregador e com um movimento seco, jogou-me no vão interminável. A queda não foi nada agradável ─ tendo em vista que eu acabara de nascer e estava nu ─, o vento frio castigava-me os ouvidos. Recomecei a chorar. Caía vertiginosamente e estava quase para me chocar contra as pedras afiadas do chão.
Cheguei ao chão enfim. Diferentemente do que você possa ter esperado, eu não me espatifei. Não explodi em pequenas carnes por entre as pedras afiadas. Acordei suado e ofegante em meu quarto no distrito de Oster. Ri nervosamente de tudo o que vira. Foi só um sonho. Tudo aquilo só poderia ser um sonho...
Sonho? Antes fosse. Era uma horrível lembrança em minha castigada memória.
domingo, 10 de abril de 2011
terça-feira, 27 de julho de 2010
domingo, 25 de julho de 2010
Otto e os Senhores do Tempo - Capítulo 1
- Capítulo um -
O início do fim
Já faz um certo tempo que o mundo vem sendo marcado por crises, sejam elas econômicas, sociais, ambientais ou de qualquer natureza. Guerras aparentemente sem motivo algum, como a que se iniciou há umas duas semanas entre o Brasil e o México, que já matou milhares juntamente com uma mudança comportamental estranha e repentina de seus governantes. Ninguém questiona e nem entende. Todos agora apenas seguem o sistema ditatorial de seus respectivos países por medo.
O presidente dos Estados Unidos também teve uma mudança repentina de personalidade e mandou dizimar todo e qualquer imigrante que vivesse no Continente norte-americano. Isso causou revoltas populares que resultaram em sangue e destruição. E mais uma vez por medo, quem tinha bom-senso, calava-se.
Na mesma semana da alteração do presidente norte-americano, o primeiro-ministro francês passou por algo semelhante, onde a imprensa local e mundial noticiou seu último e perturbador pronunciamento: “estamos todos aqui, e vocês nada podem fazer para impedir-nos! Preparem-se para dias piores!” – Quem viu a face do primeiro-ministro durante a frase percebeu um leve empalidecer, olhos desfocados, voz arrastada. Ninguém compreendeu. Ninguém soube explicar.
Há uns dias um terremoto de 5.5 graus na escala Richter assolou o Brasília e arredores. Ninguém acreditou. A comunidade científica não soube explicar o evento. Muitas casas, prédios e monumentos ficaram danificados e o medo começou a fazer parte da vida dos brasilienses e de todo o Brasil, que estava passando por situações semelhantes ou piores em vários outros estados.
E é num dia de excepcional calor e baixa umidade em Brasília que começa essa história. Era quase meio-dia em Brasília. O Sol estava alto emanando uma quentura insuportável. Quem estava em suas casas, apartamentos, se refrescava como podia: ventilador, ar-condicionado ou banho de água-fria em seus chuveiros ou piscinas.
Na feira da torre de TV, como era usual de se acontecer, inúmeras pessoas transitavam por ali, ainda mais por ser fim-de-semana. Uma menina de uns cinco anos gritava a plenos pulmões pedindo uma boneca de pano artesanal à sua mãe, que visivelmente nervosa deu-lhe logo um grito e um par de tapas no ombro. Os vendedores em suas barracas ou perambulando falavam tão alto quanto suas gargantas os permitiam. Em meio a odores, barulhos, suvenires, brinquedos e afins, um grupo de quatro garotos estava a correr por toda a feira, roubando o que podiam antes que os donos percebessem e os seguissem.
Pegavam o que viam pela frente: roupas em exposição nos cabides, brinquedos, salgados das mãos dos visitantes desatentos. Derrubavam uma boa quantidade de objetos em que esbarravam. No meio da correria toda, um deles se destacava por estar claramente sem resistência física.
─ Ô! Ô, GALERA! ESPERA UM POUCO! PÁRA TODO MUNDO! ─ gritou o mais alto deles arfando, lutando para falar e correr ao mesmo tempo enquanto acenava loucamente para os outros três já a alguns metros dele.
─ Que foi, Otto? ─ perguntou um ruivo magricela um pouco menor que Otto ─ Já cansou? Você é um fresco mesmo!
─ E daí? Não posso mais? ─ respondeu Otto já ficando alterado. ─ pra mim já deu por hoje. Vou voltar para o nosso beco! ─ Completou.
─ V’ambora, galera! O outro aqui não consegue correr mais não! ─ Disse um outro garoto moreno e corpulento.
─ Minhas pernas estão doendo. ─ choramingou o menor deles.
Os quatro foram saindo na direção do Centro de convenções Ulysses Guimarães, que estava a uma distância considerável dali. O beco dos meninos ficava numa parte menos nobre de um setor residencial longe dali. Era onde todos eles têm vivido e se escondido por toda a vida. Por mais que fosse difícil e precária a situação daqueles meninos de rua, eles nunca reclamavam de nada. Para eles, ter que roubar comida para sobreviver, ter que revezar uma manta velha durante a noite, dormir no chão e várias outras situações podiam ser facilmente esquecidas na companhia uns dos outros. Nenhum deles sabia o que era ser amparado pelo colo materno, ou um carinho de pai, ganhar um presente do tio... Nada. Por alguma razão, eles foram abandonados e assim permaneciam. A única ajuda que já tiveram foi de uma senhora já falecida que deu a eles o que vestir. E que por sinal ainda eram as mesmas roupas por anos.
Foram fazendo o percurso conversando e rindo do que tinham acabado de fazer. Estavam todos os quatro carregando a “safra da vez” com certa dificuldade. O calo os fazia terem mal-estar e suarem excessivamente. Andavam o mais rápido que podia para se livrarem o quanto antes do Sol, aproveitando as sombras esporádicas das árvores aleatórias que eles passavam por baixo. Passaram pelo grande e espelhado Centro de Convenções, com seu teto côncavo e seu formato moderno.
Não muito diferente de seus amigos, Otto estava trajando uma camiseta velha e surrada de algodão que apesar de estar tomada pela sujeira das ruas, ainda deixava identificar que um dia fora branca. Usava também uma bermuda jeans esfarrapada e igualmente imunda. Enfim, sua aparência não era convidativa.
Seu rosto era macilento e insolado ─ pegava Sol o dia todo enquanto perambulava pela cidade em busca de comida ─, seus cabelos eram de um louro intenso e queimado pelo Astro-rei. Os olhos, muito negros, estavam rodeados de olheiras, externando seu cansaço por noites mal-dormidas e por acordar muito cedo todos os dias. As primeiras espinhas da puberdade pontilhavam partes isoladas de sua face. Era alto demais para sua idade ─ quatorze anos e oito meses ─ e muito magro.
Por todo o trajeto notaram que todas as pistas, dos sois lados, estavam engarrafadas. Era um estardalhaço de buzinas e brados nervosos de motoristas mais impacientes.
Os garotos continuavam a andar. Passaram pelo Palácio do Buriti e viram uma concentração de homens de terno na porta dele, tirando seus paletós e se abanado por causa do calor.
Quando chegaram ao branco e singelo Memorial JK ─ um museu em homenagem ao antigo presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek ─ uma discussão entre motoristas começou à esquerda deles:
─ Anda logo, seu idiota! ─ esbravejou um homem de uns 40 anos, calvo e gordo, usando terno preto. Havia posto com muito esforço o seu tronco para fora da janela do seu Honda Civic preto enquanto gritava.
─ Passa por cima! ─ se irritou o motorista logo à sua frente descendo do seu Audi vermelho indo em direção ao gordo engomado. Os dois estavam no meio do congestionamento trocando socos e chutes. Vários motoristas desceram dos seus carros afim de separar a briga. A ponte dentária do homem que começou a intriga voou para dentro de um bueiro que estava a uns quatro metros do epicentro da confusão.
Os quatro puseram seus pertences no chão e pararam para olhar a confusão com notável alegria por ver o que acontecia.
Para piorar a situação, uma mulher histérica começou a gritar ininterrupdamente de dentro de seu carro. Nervosa, começou a se sacudir no banco do motorista fazendo seus cabelos ondulados se grudarem ao suor de sua face.
─ Cala a boca, velha louca! ─ Gritou alguém do meio do tumulto que agora tinha proporções estúpidas. Quase todos os motoristas desceram dos seus carros, e os que não desceram começaram a buzinar para que os curiosos voltassem aos seus lugares.
Num sobressalto, todos pararam de brigar e as buzinas cessaram. Um tremor rápido e intenso chão sacudiu a cidade.
Otto começou a sentir uma queimação nos olhos. Sentia como se eles estivessem vibrando em seu rosto e então constatou que já não enxergava mais nada. Percebeu que as vozes preocupadas dos seus amigos se distanciavam vertiginosamente dele. Tudo estava negro, como se estivesse tendo um daqueles sonhos em que só se vê escuridão, sem acontecimentos. Não estava em seu corpo. Passados alguns segundos, levantou-se de sopetão após um outro tremor intenso e barulhento ter vindo do chão que o fez acordar rapidamente e bater sua cabeça na de seu amigo ruivo que estava dando tapas em seu rosto tentando reanimá-lo. As ruas começaram a rachar. Estava ainda assustado pela estranha experiência que acontecia com ele desde criança ─ pensava ser algum tipo de doença nos olhos ou na cabeça, mas, como nunca foi a um hospital, preferiu conviver com aquilo sem no entanto conseguir se acostumar ─, que passaram a ser mais freqüentes conforme ele crescia, e logo após, sentiu que pó e pequenos pedaços de concreto estavam caindo em sua cabeça. Seus amigos o levaram para a entrada do memorial JK depois que ele desmaiou. Tinham a intenção de entrar lá e procurar ajuda, mas, Otto acordou antes e acabaram ficando logo abaixo da estátua de Juscelino Kubitschek, erguida sobre um pedestal alto e fino e coberta por uma estrutura que se curvava sobre o antigo presidente, que fora esculpido acenando e sorrindo para a cidade que construíra. Numa fração de segundo, Otto e seus amigos saltaram de onde estavam para longe, ao passo que Juscelino agora ocupava o lugar onde os meninos estavam após ter caído de seu pedestal. De perto a estátua era bem maior do que imaginavam. O que sobrou do memorial veio abaixo, fazendo com que Otto e os outros desviassem dos estilhaços de concreto que voavam para todo lado.
Ele se aproximou da estátua ─ milagrosamente inteira ─ que estava deitada de rosto virado para cima, que descrevia uma expressão calma e despreocupada.
─ Como isso caiu lá de cima e não quebrou nenhum pedacinho? ─ perguntou o garoto moreno estupefato.
Os quatro estavam parados olhando estáticos para Juscelino. De dentro do Memorial saiu um grupo de visitantes que murmuravam alto se perguntando o que estaria havendo.
─ Ei, moleques! O que vocês estão fazendo? Saiam já da... O QUE ACONTECEU AQUI? ─ perguntou perplexo um homem que estava no grupo e que era um dos funcionários do local. Visitantes, funcionários e garotos, puseram-se a olhar para a estátua largada na entrada do memorial.
Todos se afastaram rapidamente do presidente. O rosto começou a rachar. Das rachaduras que se prolongavam por todo o corpo da estátua saíam vapor e pedaços do que parecia ser diamante em pó. O cheiro que saía dele era forte e acre. Em questão de segundos, explodira.
Pedaços de Juscelino Kubitschek voaram para todos os lados e acertaram os que estavam ao redor, e que se mantinham mais rígidos do que o ex-monumento que acabara de se pulverizar. Estavam gelados de medo.
O silêncio dos observadores e sua quietude foram logo interrompidos pelo surgimento de algo que estava se materializando do vapor e do diamante em pó: uma mulher de pele estranhamente transparente. À medida que ia "encarnando" deixava reconhecer a pele enrugada que cobria apenas ossos. A imagem grotesca foi se tornando nítida. Seus cabelos ondulados cinza - desbotado estavam desgrenhados e emoldurando o que deveria ser o rosto daquela figura. A face, muito se assemelhava à de um cadáver. Onde deveriam estar os olhos, havia apenas os buracos profundos e vazios. A boca parecia ter-lhe sido arrancada aos golpes de faca e deixava mostrar os dentes que ainda restavam. Trajava uma capa com capuz que pelo que parecia fora branca que estava por inteiro rasgada, e que mal se prendia àquela mulher ossuda.
Otto e os outros gritaram alucinadamente, sem sair do lugar, e logo pararam de fazê-lo depois que perceberam que não saíra o menor indício de som. Aliás, toda a cidade estava em silêncio, como se estivessem no vácuo. Silêncio foi logo interrompido quando a estranha mulher ergueu os braços e proferiu o que parecia ser uma frase dita ao contrário. Sua voz rouca e agoniante ecoou por toda a cidade e seus arredores.
Quando a mulher terminou de falar, um tremor muito intenso começou a abalar a cidade. Todos os que estavam olhando para a estátua já tinham saído correndo para longe daquela figura . Os prédios e pontos turísticos de Brasília iam sendo vertidos em pó. Os vitrais da Catedral metropolitana voaram aos cacos deixando ver os anjos do interior da igreja, que agora já não estavam presos ao teto. Os dois prédios do Congresso nacional agora eram um amontoado de destroços no chão. O Centro de Convenções desmoronava rapidamente lançando destroços sobre pessoas e carros. Uma rachadura imensa que parecia não ter fim dividia a cidade ao meio.
A causadora daquela tragédia subiu no Memorial JK e de suas mãos saiu um arco de vento que se propagava e intensificava rumo ao que insistisse em permanecer de pé e logo após, proferiu mais um punhado de palavras naquela voz horrenda que fizeram com que a fuligem brilhante que restou da explosão da estátua se multiplicasse em proporções inacreditáveis e se transformasse em neve.
Há muito Otto, seus amigos e mais um monte de pessoas corriam sem olhar para trás. Ele não conseguia acreditar no que vira e no que estava acontecendo. Várias pessoas saíam desesperadamente dos carros engarrafados e os abandonavam para correr. O calor que há pouco sufocava a todos, deu lugar a um frio cortante. O céu estava completamente nublado e escuro.
Otto parou de correr em meio à multidão que restara viva e que ainda corria e acabou se perdendo de seus amigos. Olhou em direção a onde estava. Quase tudo o que estava lá virou pó. Mesmo apesar da distância, podia ver a estranha mulher que agora estava fazendo surgir um furacão de neve que sugava destroços, carros, fuligem, pessoas e árvores.
De repente várias pessoas lutavam para desviar de raios que começaram a cair de diversos lugares. Um deles atingiu a torre de TV que veio abaixo com a mesma velocidade com que fora acertada.
Otto desviou por pouco de um objeto que saiu de dentro do furacão de neve e caiu no chão em alta velocidade se partindo em vários pedaços. Um corpo congelado. Agora vários deles voavam para todos os lados ao mesmo tempo que corpos ainda vivos eram sugados para dentro do furacão. Otto correu para a árvore mais próxima ainda fincada no chão, esbarrando em várias pessoas que corriam atormentadas, e agarrou-se nela. O furacão estava puxando a todos para si.
De repente Otto foi atingido em cheio na cabeça por um pedaço de concreto e largou a árvore. Por um momento pensou estar sonhando, ou até mesmo prestes a morrer. Enquanto estava rolando no chão rumo ao furacão que o estava atraindo e quase para desmaiar, a figura de um homem alado agarrou-o pela cintura com tanta força que o garoto pensou que iria quebrar ao meio e o levou em direção contrária ao desastre. Estava agora voando. Via do alto como tudo estava ficando. Metade da cidade já havia sido pulverizada. O frio lhe queimava a face. Não se atrevia a gritar ou perguntar ao seu salvador por que e para onde estava sendo levado.
O furacão se explodiu cobrindo tudo com uma camada muitíssimo grossa de neve e terminando de destruir o que faltava. A mulher já não estava mais ali.
Tão rápido quanto tudo começara, havia terminado. Os raios já não caíam, os tremores pararam. Otto continuava voando nos braços do ser alado. Agora o já não sentia frio, ao contrário, sentia a pele amornar. Só ouvia o barulho de asas batendo. Tudo estava ficando escuro. Desmaiou.
Um silêncio mordorrento aflingia uma imensidão branca e plana, que há poucos segundos, era uma cidade.
quarta-feira, 21 de julho de 2010
Ensaio nostálgico sobre a nostalgia
Nascer, crescer, adolescer... É tudo muito bom independentemente do que possa acontecer durante essas passagens.
O que para mim torna esse fluxo degradante, é o fato dele ser acíclico. Não poder voltar à dias melhores, tempos mais leves, épocas mais brandas, de uma certa forma me entristece. Profundamente.
Me recordo de quando eu acreditava que podia voar. De quando eu tinha longas conversas com meus brinquedos ou mesmo com pássaros empoleirados na janela do meu quarto.
Lembro-me de quando o dia amanhecia ao som da novidade.
Lembro-me de quando tudo era inconstância. Uma inconstância saudável. Amena...
Não vou negar que me rendo às lágrimas quando me recordo de meus tempos à sós deitado no chão frio num fim de tarde, enquanto olhava ali do chão para o céu anoitecendo pensando em como poderia o mesmo dia assumir tantas cores, tantos cheiros, tantos sabores.
Como?
Eu gostava de atribuir a tudo uma nova descoberta.
Hoje isso acabou.
Hoje vejo o meu passado como ele é: o passado.
Como eu queria marejar meus olhos com a emoção do novo e não com saudade do velho.
Como me dói. Como me dói.
Me sinto de certa forma díspar de todo o resto das pessoas com quem convivo, ou que estão na minha idade.
Me orgulho. Não vou negar. Me orgulho.
Me orgulho de saber que a minha criança ainda não morreu. Que resiste às minha intemperanças firme e forte como sempre foi.
Minha imaginação permanece a mesma dos meus cinco anos. Onde viajo para lugares cheios de mistério e aventura.
Mas, como me dói.
Como me dói crescer, adolescer....
Eu trocaria toda a minha adolescência de fim vindouro por mais um dia. Um único e adocicado dia da minha infância. Onde tudo era feliz.
Que saudade... Que saudade de mim...
O que para mim torna esse fluxo degradante, é o fato dele ser acíclico. Não poder voltar à dias melhores, tempos mais leves, épocas mais brandas, de uma certa forma me entristece. Profundamente.
Me recordo de quando eu acreditava que podia voar. De quando eu tinha longas conversas com meus brinquedos ou mesmo com pássaros empoleirados na janela do meu quarto.
Lembro-me de quando o dia amanhecia ao som da novidade.
Lembro-me de quando tudo era inconstância. Uma inconstância saudável. Amena...
Não vou negar que me rendo às lágrimas quando me recordo de meus tempos à sós deitado no chão frio num fim de tarde, enquanto olhava ali do chão para o céu anoitecendo pensando em como poderia o mesmo dia assumir tantas cores, tantos cheiros, tantos sabores.
Como?
Eu gostava de atribuir a tudo uma nova descoberta.
Hoje isso acabou.
Hoje vejo o meu passado como ele é: o passado.
Como eu queria marejar meus olhos com a emoção do novo e não com saudade do velho.
Como me dói. Como me dói.
Me sinto de certa forma díspar de todo o resto das pessoas com quem convivo, ou que estão na minha idade.
Me orgulho. Não vou negar. Me orgulho.
Me orgulho de saber que a minha criança ainda não morreu. Que resiste às minha intemperanças firme e forte como sempre foi.
Minha imaginação permanece a mesma dos meus cinco anos. Onde viajo para lugares cheios de mistério e aventura.
Mas, como me dói.
Como me dói crescer, adolescer....
Eu trocaria toda a minha adolescência de fim vindouro por mais um dia. Um único e adocicado dia da minha infância. Onde tudo era feliz.
Que saudade... Que saudade de mim...
segunda-feira, 5 de julho de 2010
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Sangue do seu sangue, do meu, do nosso...
Mamá... dá 'peta páeu!
Qué mamá!
Mamá! Tá 'uendo aquió...
Dadá peu saá!
Dadá 'peta peu pá de choá!
Mim dá aquilo alí mãe!
Mim dá aquilo lá!
Mim dá!
Eu quero!
Não me beija mãe!
Credo!
Ela não vai gostar disso!
Não me envergonhe na frente dela
Essa é a minha namorada
Depois falo mais, tenho que ir à faculdade
Depois falo mais, tenho que trabalhar
Depois falo mais, tenho que casar
"...Mamá dá 'peta páeu!
Qué mamá!
Mamá! Tá 'uendo aquió...
Dadá peu saá!
Dá 'peta peu pá de choá
Mim dá aquilo mãe!
Mim dá aquilo lá!
Mim dá!
Eu quero..."
...Depois eu falo, mãe, quando eu chegar aí...
Qué mamá!
Mamá! Tá 'uendo aquió...
Dadá peu saá!
Dadá 'peta peu pá de choá!
Mim dá aquilo alí mãe!
Mim dá aquilo lá!
Mim dá!
Eu quero!
Não me beija mãe!
Credo!
Ela não vai gostar disso!
Não me envergonhe na frente dela
Essa é a minha namorada
Depois falo mais, tenho que ir à faculdade
Depois falo mais, tenho que trabalhar
Depois falo mais, tenho que casar
"...Mamá dá 'peta páeu!
Qué mamá!
Mamá! Tá 'uendo aquió...
Dadá peu saá!
Dá 'peta peu pá de choá
Mim dá aquilo mãe!
Mim dá aquilo lá!
Mim dá!
Eu quero..."
...Depois eu falo, mãe, quando eu chegar aí...
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Consciência
Não te sintas tão culpado por tuas falhas
Não te oprimas em demasia quando estiveres sem alento
Eu te amo, assim como és
Eu conheço tuas enfermidades mais profundas e sei até que ponto podes aguentar
Eu sei que és muito mais do que podes ver refletido no espelho de tua alma
Sei que podes muito mais do pensas
Sei que na mais profunda e esquecida parte da tua alma,
não querias ter tais pensamentos
Não queria lamentar-te em maior proporção do que agradeces
Sim meu amigo, meu irmão.
Sei tudo sobre ti
E o faço porque tu me és
Eu te sou.
Não te oprimas em demasia quando estiveres sem alento
Eu te amo, assim como és
Eu conheço tuas enfermidades mais profundas e sei até que ponto podes aguentar
Eu sei que és muito mais do que podes ver refletido no espelho de tua alma
Sei que podes muito mais do pensas
Sei que na mais profunda e esquecida parte da tua alma,
não querias ter tais pensamentos
Não queria lamentar-te em maior proporção do que agradeces
Sim meu amigo, meu irmão.
Sei tudo sobre ti
E o faço porque tu me és
Eu te sou.
segunda-feira, 3 de maio de 2010
Aquele sobre o Estranho
Era de uma estranheza perceptível, mas, apesar das evidências conseguia cativar os outros com uma facilidade notável! Talvez fosse pela peculiaridade, talvez pelo sorriso constante, não sei... Só sei que foi assim! Foi assim e pronto. Como se fosse fácil, conquistou, dilacerou e levou embora meu coração. Aquele Estranho. Foi assim, de uma hora para outra, sem nenhuma explicação, chegou, nem pediu licença, entrou na minha vida e fez moradia eterna! Como se fosse fácil, sua estranha personalidade virou melodia, virou amizade. Fez moradia!
Por AOYAMA, Yasmin Hikari.
Por AOYAMA, Yasmin Hikari.
sábado, 1 de maio de 2010
Heartless
I wanna get away
To make a brand new day
How funny it would be
You trying to stop me?
Can't you hear my scream ?
Well, it wasn't a dream
You pretend not to see
What you've done to me.
I'm gonna leave with no regret
You will be easy to forget
I'm gonna roll the dice
Without thinking twice
Nothing was making sense
I was caught in a bad romance.
Por: Bueno Monteiro,Anna Letícia, de Freitas Lourenço,Silvair Junior, Aoyama,Yasmin Hikari, Chaves de Lima,Beatriz
To make a brand new day
How funny it would be
You trying to stop me?
Can't you hear my scream ?
Well, it wasn't a dream
You pretend not to see
What you've done to me.
I'm gonna leave with no regret
You will be easy to forget
I'm gonna roll the dice
Without thinking twice
Nothing was making sense
I was caught in a bad romance.
Por: Bueno Monteiro,Anna Letícia, de Freitas Lourenço,Silvair Junior, Aoyama,Yasmin Hikari, Chaves de Lima,Beatriz
quarta-feira, 28 de abril de 2010
Éden negro
Há muito ouvi falar de um lugar onde coisas tão incríveis quanto inglórias podem acontecer.
Disseram-me certa vez que havia os mais belos prados verdejantes, as mais belas relvas, os mais belos céus e terras, as mais belas coisas belas...
Entretanto, o horror também estava constantemente presente em meio a tantas maravilhas: dor, sofrimento, angústias, insatisfações, segredos....
Como pode haver tanto aprazo e tanto infortúnio no mesmo lugar?
Não sei ao certo. Só sei que um tenta suprimir o outro numa batalha incessante que muito me diverte e depressia.
Só sei que esse lugar é...
Minha mente.
Disseram-me certa vez que havia os mais belos prados verdejantes, as mais belas relvas, os mais belos céus e terras, as mais belas coisas belas...
Entretanto, o horror também estava constantemente presente em meio a tantas maravilhas: dor, sofrimento, angústias, insatisfações, segredos....
Como pode haver tanto aprazo e tanto infortúnio no mesmo lugar?
Não sei ao certo. Só sei que um tenta suprimir o outro numa batalha incessante que muito me diverte e depressia.
Só sei que esse lugar é...
Minha mente.
sábado, 10 de abril de 2010
Três minutos. Últimos.
Oh, Glorioso Deus!
Perdoa-me, pois, não fui filho Teu
Perdoa-me por ter-me de Ti distanciado.
Per oa-me por ter-me rendido ao que não era meu e nem Teu.
Perdoa-me, pelo mau uso de meu liv e arb trio...
Perdo-a me Oh, Pai, por ter-te sido inútil.
Por blasf mar contra Ti...
P rdoa-me Se hor
P e do a
se nr
p,m
v fbvgggggggggggggggggggggggggggggggggggggggf
Perdoa-me, pois, não fui filho Teu
Perdoa-me por ter-me de Ti distanciado.
Per oa-me por ter-me rendido ao que não era meu e nem Teu.
Perdoa-me, pelo mau uso de meu liv e arb trio...
Perdo-a me Oh, Pai, por ter-te sido inútil.
Por blasf mar contra Ti...
P rdoa-me Se hor
P e do a
se nr
p,m
v fbvgggggggggggggggggggggggggggggggggggggggf
Caça
Olha bem no fundos dos meus olhos e dize-me o que vês.
Olha bem no fundo da minha alma e vede o quão apática ela se acha.
Olha meu resquício de ânimo e faze-te uma pessoa solidária.
Ouve meu pranto inaudível na calada da ruidosa noite.
Sente a batida morta desse meu coração que já não bate.
Onde posso encontrar versos para meu canto triste ou tristezas para meus cantos inversos?
Para onde devo ir afim de obter a palavra que eu costumava ouvir antes de me render à loucura?
O tudo que agora tenho me é menos que nada.
Dize-me o que devo fazer para ter-me de volta para mim.
Perdi-me na obscuridade de meus pensamentos,
na solidão de meu egoísmo,a
na infinitude de minhas fraquezas,
na interminável sensação de que estou abaixo das almas mais desgraçadas...
Perdi-me em meu próprio olhar. Vazio. Triste. Abatido. Convalescente.
Ludibriei-me com minhas próprias oratórias. Aquelas que eu costumava declamar apaixonadamente para meu eu mais demente e ignorante, que a tudo atribuía caráter verídico e romântico.
Olha meu rosto. Dize-me se o vês, pois eu mesmo já não sou capaz de fazê-lo
.
.
.
Olha bem no fundo da minha alma e vede o quão apática ela se acha.
Olha meu resquício de ânimo e faze-te uma pessoa solidária.
Ouve meu pranto inaudível na calada da ruidosa noite.
Sente a batida morta desse meu coração que já não bate.
Onde posso encontrar versos para meu canto triste ou tristezas para meus cantos inversos?
Para onde devo ir afim de obter a palavra que eu costumava ouvir antes de me render à loucura?
O tudo que agora tenho me é menos que nada.
Dize-me o que devo fazer para ter-me de volta para mim.
Perdi-me na obscuridade de meus pensamentos,
na solidão de meu egoísmo,a
na infinitude de minhas fraquezas,
na interminável sensação de que estou abaixo das almas mais desgraçadas...
Perdi-me em meu próprio olhar. Vazio. Triste. Abatido. Convalescente.
Ludibriei-me com minhas próprias oratórias. Aquelas que eu costumava declamar apaixonadamente para meu eu mais demente e ignorante, que a tudo atribuía caráter verídico e romântico.
Olha meu rosto. Dize-me se o vês, pois eu mesmo já não sou capaz de fazê-lo
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