terça-feira, 27 de julho de 2010

"Teaser" de divulgação de "Otto e os Senhores do Tempo"

domingo, 25 de julho de 2010

Otto e os Senhores do Tempo - Capítulo 1



- Capítulo um -
O início do fim


          Já faz um certo tempo que o mundo vem sendo marcado por crises, sejam elas econômicas, sociais, ambientais ou de qualquer natureza. Guerras aparentemente sem motivo algum, como a que se iniciou há umas duas semanas entre o Brasil e o México, que já matou milhares juntamente com uma mudança comportamental estranha e repentina de seus governantes. Ninguém questiona e nem entende. Todos agora apenas seguem o sistema ditatorial de seus respectivos países por medo.
          O presidente dos Estados Unidos também teve uma mudança repentina de personalidade e mandou dizimar todo e qualquer imigrante que vivesse no Continente norte-americano. Isso causou revoltas populares que resultaram em sangue e destruição. E mais uma vez por medo, quem tinha bom-senso, calava-se.
          Na mesma semana da alteração do presidente norte-americano, o primeiro-ministro francês passou por algo semelhante, onde a imprensa local e mundial noticiou seu último e perturbador pronunciamento: “estamos todos aqui, e vocês nada podem fazer para impedir-nos! Preparem-se para dias piores!” – Quem viu a face do primeiro-ministro durante a frase percebeu um leve empalidecer, olhos desfocados, voz arrastada. Ninguém compreendeu. Ninguém soube explicar.
          Há uns dias um terremoto de 5.5 graus na escala Richter assolou o Brasília e arredores. Ninguém acreditou. A comunidade científica não soube explicar o evento. Muitas casas, prédios e monumentos ficaram danificados e o medo começou a fazer parte da vida dos brasilienses e de todo o Brasil, que estava passando por situações semelhantes ou piores em vários outros estados.
          E é num dia de excepcional calor e baixa umidade em Brasília que começa essa história. Era quase meio-dia em Brasília. O Sol estava alto emanando uma quentura insuportável. Quem estava em suas casas, apartamentos, se refrescava como podia: ventilador, ar-condicionado ou banho de água-fria em seus chuveiros ou piscinas.
           Na feira da torre de TV, como era usual de se acontecer, inúmeras pessoas transitavam por ali, ainda mais por ser fim-de-semana. Uma menina de uns cinco anos gritava a plenos pulmões pedindo uma boneca de pano artesanal à sua mãe, que visivelmente nervosa deu-lhe logo um grito e um par de tapas no ombro. Os vendedores em suas barracas ou perambulando falavam tão alto quanto suas gargantas os permitiam. Em meio a odores, barulhos, suvenires, brinquedos e afins, um grupo de quatro garotos estava a correr por toda a feira, roubando o que podiam antes que os donos percebessem e os seguissem.
           Pegavam o que viam pela frente: roupas em exposição nos cabides, brinquedos, salgados das mãos dos visitantes desatentos. Derrubavam uma boa quantidade de objetos em que esbarravam. No meio da correria toda, um deles se destacava por estar claramente sem resistência física.
           ─ Ô! Ô, GALERA! ESPERA UM POUCO! PÁRA TODO MUNDO! ─ gritou o mais alto deles arfando, lutando para falar e correr ao mesmo tempo enquanto acenava loucamente para os outros três já a alguns metros dele.
           ─ Que foi, Otto? ─ perguntou um ruivo magricela um pouco menor que Otto ─ Já cansou? Você é um fresco mesmo!
           ─ E daí? Não posso mais? ─ respondeu Otto já ficando alterado. ─ pra mim já deu por hoje. Vou voltar para o nosso beco! ─ Completou.
           ─ V’ambora, galera! O outro aqui não consegue correr mais não! ─ Disse um outro garoto moreno e corpulento.
           ─ Minhas pernas estão doendo. ─ choramingou o menor deles.
          Os quatro foram saindo na direção do Centro de convenções Ulysses Guimarães, que estava a uma distância considerável dali. O beco dos meninos ficava numa parte menos nobre de um setor residencial longe dali. Era onde todos eles têm vivido e se escondido por toda a vida. Por mais que fosse difícil e precária a situação daqueles meninos de rua, eles nunca reclamavam de nada. Para eles, ter que roubar comida para sobreviver, ter que revezar uma manta velha durante a noite, dormir no chão e várias outras situações podiam ser facilmente esquecidas na companhia uns dos outros. Nenhum deles sabia o que era ser amparado pelo colo materno, ou um carinho de pai, ganhar um presente do tio... Nada. Por alguma razão, eles foram abandonados e assim permaneciam. A única ajuda que já tiveram foi de uma senhora já falecida que deu a eles o que vestir. E que por sinal ainda eram as mesmas roupas por anos.
          Foram fazendo o percurso conversando e rindo do que tinham acabado de fazer. Estavam todos os quatro carregando a “safra da vez” com certa dificuldade. O calo os fazia terem mal-estar e suarem excessivamente. Andavam o mais rápido que podia para se livrarem o quanto antes do Sol, aproveitando as sombras esporádicas das árvores aleatórias que eles passavam por baixo. Passaram pelo grande e espelhado Centro de Convenções, com seu teto côncavo e seu formato moderno.
         Não muito diferente de seus amigos, Otto estava trajando uma camiseta velha e surrada de algodão que apesar de estar tomada pela sujeira das ruas, ainda deixava identificar que um dia fora branca. Usava também uma bermuda jeans esfarrapada e igualmente imunda. Enfim, sua aparência não era convidativa.
         Seu rosto era macilento e insolado ─ pegava Sol o dia todo enquanto perambulava pela cidade em busca de comida ─, seus cabelos eram de um louro intenso e queimado pelo Astro-rei. Os olhos, muito negros, estavam rodeados de olheiras, externando seu cansaço por noites mal-dormidas e por acordar muito cedo todos os dias. As primeiras espinhas da puberdade pontilhavam partes isoladas de sua face. Era alto demais para sua idade ─ quatorze anos e oito meses ─ e muito magro.  
           Por todo o trajeto notaram que todas as pistas, dos sois lados, estavam engarrafadas. Era um estardalhaço de buzinas e brados nervosos de motoristas mais impacientes.
           Os garotos continuavam a andar. Passaram pelo Palácio do Buriti e viram uma concentração de homens de terno na porta dele, tirando seus paletós e se abanado por causa do calor.
          Quando chegaram ao branco e singelo Memorial JK ─ um museu em homenagem ao antigo presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek ─ uma discussão entre motoristas começou à esquerda deles:
         ─ Anda logo, seu idiota! ─ esbravejou um homem de uns 40 anos, calvo e gordo, usando terno preto. Havia posto com muito esforço o seu tronco para fora da janela do seu Honda Civic preto enquanto gritava.
         ─ Passa por cima! ─ se irritou o motorista logo à sua frente descendo do seu Audi vermelho indo em direção ao gordo engomado. Os dois estavam no meio do congestionamento trocando socos e chutes. Vários motoristas desceram dos seus carros afim de separar a briga. A ponte dentária do homem que começou a intriga voou para dentro de um bueiro que estava a uns quatro metros do epicentro da confusão.
         Os quatro puseram seus pertences no chão e pararam para olhar a confusão com notável alegria por ver o que acontecia.
         Para piorar a situação, uma mulher histérica começou a gritar ininterrupdamente de dentro de seu carro. Nervosa, começou a se sacudir no banco do motorista fazendo seus cabelos ondulados se grudarem ao suor de sua face.
         ─ Cala a boca, velha louca! ─ Gritou alguém do meio do tumulto que agora tinha proporções estúpidas. Quase todos os motoristas desceram dos seus carros, e os que não desceram começaram a buzinar para que os curiosos voltassem aos seus lugares.
         Num sobressalto, todos pararam de brigar e as buzinas cessaram. Um tremor rápido e intenso chão sacudiu a cidade.
         Otto começou a sentir uma queimação nos olhos. Sentia como se eles estivessem vibrando em seu rosto e então constatou que já não enxergava mais nada. Percebeu que as vozes preocupadas dos seus amigos se distanciavam vertiginosamente dele. Tudo estava negro, como se estivesse tendo um daqueles sonhos em que só se vê escuridão, sem acontecimentos. Não estava em seu corpo. Passados alguns segundos, levantou-se de sopetão após um outro tremor intenso e barulhento ter vindo do chão que o fez acordar rapidamente e bater sua cabeça na de seu amigo ruivo que estava dando tapas em seu rosto tentando reanimá-lo. As ruas começaram a rachar. Estava ainda assustado pela estranha experiência que acontecia com ele desde criança ­─ pensava ser algum tipo de doença nos olhos ou na cabeça, mas, como nunca foi a um hospital, preferiu conviver com aquilo sem no  entanto conseguir se acostumar ─, que passaram a ser mais freqüentes conforme ele crescia, e logo após, sentiu que pó e pequenos pedaços de concreto estavam caindo em sua cabeça. Seus amigos o levaram para a entrada do memorial JK depois que ele desmaiou. Tinham a intenção de entrar lá e procurar ajuda, mas, Otto acordou antes e acabaram ficando logo abaixo da estátua de Juscelino Kubitschek, erguida sobre um pedestal alto e fino e coberta por uma estrutura que se curvava sobre o antigo presidente, que fora esculpido acenando e sorrindo para a cidade que construíra. Numa fração de segundo, Otto e seus amigos saltaram de onde estavam para longe, ao passo que Juscelino agora ocupava o lugar onde os meninos estavam após ter caído de seu pedestal. De perto a estátua era bem maior do que imaginavam. O que sobrou do memorial veio abaixo, fazendo com que Otto e os outros desviassem dos estilhaços de concreto que voavam para todo lado.
         Ele se aproximou da estátua ─ milagrosamente inteira ─ que estava deitada de rosto virado para cima, que descrevia uma expressão calma e despreocupada.
         ─ Como isso caiu lá de cima e não quebrou nenhum pedacinho? ─ perguntou o garoto moreno estupefato.
         Os quatro estavam parados olhando estáticos para Juscelino. De dentro do Memorial saiu um grupo de visitantes que murmuravam alto se perguntando o que estaria havendo.
         ─ Ei, moleques! O que vocês estão fazendo? Saiam já da... O QUE ACONTECEU AQUI? ─ perguntou perplexo um homem que estava no grupo e que era um dos funcionários do local. Visitantes, funcionários e garotos, puseram-se a olhar para a estátua largada na entrada do memorial.
         Todos se afastaram rapidamente do presidente. O rosto começou a rachar. Das rachaduras que se prolongavam por todo o corpo da estátua saíam vapor e pedaços do que parecia ser diamante em pó. O cheiro que saía dele era forte e acre. Em questão de segundos, explodira.
         Pedaços de Juscelino Kubitschek voaram para todos os lados e acertaram os que estavam ao redor,  e que se mantinham mais rígidos do que o ex-monumento que acabara de se pulverizar. Estavam gelados de medo.
         O silêncio dos observadores e sua quietude foram logo interrompidos pelo surgimento de algo que estava se materializando do vapor e do diamante em pó: uma mulher de pele estranhamente transparente. À medida que ia "encarnando" deixava reconhecer a pele enrugada que cobria apenas ossos. A imagem grotesca foi se tornando nítida. Seus cabelos ondulados cinza - desbotado estavam desgrenhados e emoldurando o que deveria ser o rosto daquela figura. A face, muito se assemelhava à de um cadáver. Onde deveriam estar os olhos, havia apenas os buracos profundos e vazios. A boca parecia ter-lhe sido arrancada aos golpes de faca e deixava mostrar os dentes que ainda restavam. Trajava uma capa com capuz que pelo que parecia fora branca que estava por inteiro rasgada, e que mal se prendia àquela mulher ossuda.
         Otto e os outros gritaram alucinadamente, sem sair do lugar, e logo pararam de fazê-lo depois que perceberam que não saíra o menor indício de som. Aliás, toda a cidade estava em silêncio, como se estivessem no vácuo. Silêncio foi logo interrompido quando a estranha mulher ergueu os braços e proferiu o que parecia ser uma frase dita ao contrário. Sua voz rouca e agoniante ecoou por toda a cidade e seus arredores.
         Quando a mulher terminou de falar, um tremor muito intenso começou a abalar a cidade. Todos os que estavam olhando para a estátua já tinham saído correndo para longe daquela figura . Os prédios e pontos turísticos de Brasília iam sendo vertidos em pó. Os vitrais da Catedral metropolitana voaram aos cacos deixando ver os anjos do interior da igreja, que agora já não estavam presos ao teto. Os dois prédios do Congresso nacional agora eram um amontoado de destroços no chão. O Centro de Convenções desmoronava rapidamente lançando destroços sobre pessoas e carros. Uma rachadura imensa que parecia não ter fim dividia a cidade ao meio.
          A causadora daquela tragédia subiu no Memorial JK e de suas mãos saiu um arco de vento que se propagava e intensificava rumo ao que insistisse em permanecer de pé e logo após, proferiu mais um punhado de palavras naquela voz horrenda que fizeram com que a fuligem brilhante que restou da explosão da estátua se multiplicasse em proporções inacreditáveis e se transformasse em neve.
          Há muito Otto, seus amigos e mais um monte de pessoas corriam sem olhar para trás. Ele não conseguia acreditar no que vira e no que estava acontecendo. Várias pessoas saíam desesperadamente dos carros engarrafados e os abandonavam para correr. O calor que há pouco sufocava a todos, deu lugar a um frio cortante. O céu estava completamente nublado e escuro.
          Otto parou de correr em meio à multidão que restara viva e que ainda corria e acabou se perdendo de seus amigos. Olhou em direção a onde estava. Quase tudo o que estava lá virou pó. Mesmo apesar da distância, podia ver a estranha mulher que agora estava fazendo surgir um furacão de neve que sugava destroços, carros, fuligem, pessoas e árvores.
          De repente várias pessoas lutavam para desviar de raios que começaram a cair de diversos lugares. Um deles atingiu a torre de TV que veio abaixo com a mesma velocidade com que fora acertada.
          Otto desviou por pouco de um objeto que saiu de dentro do furacão de neve e caiu no chão em alta velocidade se partindo em vários pedaços. Um corpo congelado. Agora vários deles voavam para todos os lados ao mesmo tempo que corpos ainda vivos eram sugados para dentro do furacão. Otto correu para a árvore mais próxima ainda fincada no chão, esbarrando em várias pessoas que corriam atormentadas, e agarrou-se nela. O furacão estava puxando a todos para si.
          De repente Otto foi atingido em cheio na cabeça por um pedaço de concreto e largou a árvore. Por um momento pensou estar sonhando, ou até mesmo prestes a morrer. Enquanto estava rolando no chão rumo ao furacão que o estava atraindo e quase para desmaiar, a figura de um homem alado agarrou-o pela cintura com tanta força que o garoto pensou que iria quebrar ao meio e o levou em direção contrária ao desastre. Estava agora voando. Via do alto como tudo estava ficando. Metade da cidade já havia sido pulverizada. O frio lhe queimava a face. Não se atrevia a gritar ou perguntar ao seu salvador por que e para onde estava sendo levado.
          O furacão se explodiu cobrindo tudo com uma camada muitíssimo grossa de neve e terminando de destruir o que faltava. A mulher já não estava mais ali.
          Tão rápido quanto tudo começara, havia terminado. Os raios já não caíam, os tremores pararam. Otto continuava voando nos braços do ser alado. Agora o já não sentia frio, ao contrário, sentia a pele amornar. Só ouvia o barulho de asas batendo. Tudo estava ficando escuro. Desmaiou.
          Um silêncio mordorrento aflingia uma imensidão branca e plana, que há poucos segundos, era uma cidade.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Ensaio nostálgico sobre a nostalgia

Nascer, crescer, adolescer... É tudo muito bom independentemente do que possa acontecer durante essas passagens.
O que para mim torna esse fluxo degradante, é o fato dele ser acíclico. Não poder voltar à dias melhores, tempos mais leves, épocas mais brandas, de uma certa forma me entristece. Profundamente.
Me recordo de quando eu acreditava que podia voar. De quando eu tinha longas conversas com meus brinquedos ou mesmo com pássaros empoleirados na janela do meu quarto.
Lembro-me de quando o dia amanhecia ao som da novidade.
Lembro-me de quando tudo era inconstância. Uma inconstância saudável. Amena...
Não vou negar que me rendo às lágrimas quando me recordo de meus tempos à sós deitado no chão frio num fim de tarde, enquanto olhava ali do chão para o céu anoitecendo pensando em como poderia o mesmo dia assumir tantas cores, tantos cheiros, tantos sabores.
Como?
Eu gostava de atribuir a tudo uma nova descoberta.
Hoje isso acabou.
Hoje vejo o meu passado como ele é: o passado.
Como eu queria marejar meus olhos com a emoção do novo e não com saudade do velho.
Como me dói. Como me dói.
Me sinto de certa forma díspar de todo o resto das pessoas com quem convivo, ou que estão na minha idade.
Me orgulho. Não vou negar. Me orgulho.
Me orgulho de saber que a minha criança ainda não morreu. Que resiste às minha intemperanças firme e forte como sempre foi.
Minha imaginação permanece a mesma dos meus cinco anos. Onde viajo para lugares cheios de mistério e aventura.
Mas, como me dói.
Como me dói crescer, adolescer....
Eu trocaria toda a minha adolescência de fim vindouro por mais um dia. Um único e adocicado dia da minha infância. Onde tudo era feliz.
Que saudade... Que saudade de mim...

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Cartaz promocional de "Otto e os Senhores do Tempo"

Otto e os Senhores do Tempo




Esta é a capa do meu livro que está previsto para estar pronto até o final deste ano.
Aguardem!